AMAR!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Charneca em Flor – 1930
In “Sonetos”
Colecção Autores Portugueses de Ontem
Edição da Livraria Estante – Junho.1988
Florbela Espanca
1894 – 1930
SINGELEZA
Um homem chorou diante da dor do nundo
Feliz dele que sentiu.
Uma criança abriu os olhos maravilhados
Feliz dela que viu.
Um ser humano descobriu o segreda da vida
Feliz dele que sorriu.
Olho para mim nada vejo
E mesmo assim
Feliz de mim por qualquer coisa…
In “Cadernos de Poesia – 2 “ – Maio de 1945
Edições Altura
José Palla e Carmo
1923 – 1995
NÃO HÁ FRONTEIRA
O Poeta diz: a vida
é uma «merda» que precisa ser vista com o máximo
requinte.
O requinte do olhar. Olhar que o obrigue a pecar.
Porque a vida
tal como o olhar
exerce-se fora da inocência dos sentidos
numa mesma intenção
e cumplicidade: a da boca
cega
que procura já, da morte, o peito recém-nascido
e canibal.
Porque é nesse altar
onde o pavio aceso toda a noite fulgura
que os lábios se entreabrem: flagelados de jejum
e castidade — céu despedaçado pela
águia fraccionando
o espaço
das cidades.
Não há intimidade no mal — escreve o poeta exilado.
Vinda de onde, então,
Poesia,
a poderosa luz da tua absurda
generosidade?
Do «animal que se sente no mundo como a água
na água?» — Não se sabe.
Escreve-se por nada, Arnaldo, para ninguém,
para nada.
Por isso, implacável, a ti mesma
eu me ofereço — um osso duro de roer
mas que ácido floresce
no aroma que mistura o oiro à merda e o mar
ao sal.
In “Poesia de Sempre”
Revista da Fundação Biblioteca Nacional
Nº 26 – Ano 14 – 2009
Eduarda Chiote
N. 1930
PAI, A MINHA SOMBRA ÉS TU
a cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma
e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida
o sol foge
mas o crepúsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face
pai, digo-te
a minha sombra és tu
In “A Palavra no Cimo das Águas”
Colecção Campo da Poesia
Campo das Letras – Lisboa – 2000
Jorge Reis-Sá
N. 1977
SABÍAMOS DO MAR SEM O SABERMOS
Sabíamos do mar sem o sabermos,
do mar dos mapas, da cor azul do mar,
dos naufrágios no mar,
do sol solto no mar.
Sabíamos do mar sem o sentirmos
nos poros dilatados pelo mar,
o verdejante mar escalando as montanhas
tão bruscas como o sal.
Sabíamos do mar em sinuosos sinos
assinalando a noite
com corações arrepiados,
abertos como mãos
sulcadas de cabelos e molhadas
de rugas e escamas.
Sabíamos do mar em signos, símbolos,
tropos e metáforas.
Sabíamos do mar?
Sabíamos o mar.
Sabíamos a mar
In “O Inverno - Poemas (1952 - 1982)”
Imprensa Nacional Casa da Moeda
Antónioo Rebordão Navarro
N. 1933
A VIDA
Abri meus olhos ao raiar da aurora
e parti. Veio o sol e, então, segui-a,
a sombra, que eu julgava guiadora,
a minha própria sombra fugidia.
E foi subindo o sol; ao meio-dia
escondeu-se-me aos pés a sombra;
agora se volvo o olhar onde passei outrora,
vejo-a a seguir-me, a sombra que eu seguia.
A gente é o sol de um dia; sobe, avança,
passa o zênite, e vai na imensidade
apagar-se no mar, onde se lança...
E a vida é a própria sombra; meia-idade,
somos nós que a seguimos, e é a Esperança;
depois segue-nos ela: é a Saudade.
In “A Circulatura do Quadrado”
Edição Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, C.R.L.
Fernando Caldeira
1842 – 1894
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Carlos Ramo...
. Recordando... António Pin...
. Recordando... Sidónio Mur...
. Recordando... Margarida V...
. Recordando... Maria Velho...
. Recordando... Maria Irene...
. Recordando... João Rios *...