Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2013

Recordando... Florbela Espanca

AMAR!

 

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!

 

Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

 

Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

 

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

 

 

Charneca em Flor – 1930

 

In “Sonetos”

Colecção Autores Portugueses de Ontem

Edição da Livraria Estante – Junho.1988

 

Florbela Espanca

1894 – 1930

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Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2013

Recordando... José Palla e Carmo

SINGELEZA

 

Um homem chorou diante da dor do nundo

Feliz dele que sentiu.

 

Uma criança abriu os olhos maravilhados

Feliz dela que viu.

 

Um ser humano descobriu o segreda da vida

Feliz dele que sorriu.

 

Olho para mim nada vejo

E mesmo assim

Feliz de mim por qualquer coisa…

 

 

In “Cadernos de Poesia – 2 “ – Maio de 1945

Edições Altura

 

 

José Palla e Carmo

1923 – 1995

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Sábado, 19 de Janeiro de 2013

Recordando... Eduarda Chiote

NÃO HÁ FRONTEIRA

 

O Poeta diz: a vida

é uma «merda» que precisa ser vista com o máximo

requinte.

O requinte do olhar. Olhar que o obrigue a pecar.

Porque a vida

tal como o olhar

exerce-se fora da inocência dos sentidos

numa mesma intenção

e cumplicidade: a da boca

cega

que procura já, da morte, o peito recém-nascido

e canibal.

Porque é nesse altar

onde o pavio aceso toda a noite fulgura

que os lábios se entreabrem: flagelados de jejum

e castidade — céu despedaçado pela

águia fraccionando

o espaço

das cidades.

Não há intimidade no mal — escreve o poeta exilado.

Vinda de onde, então,

Poesia,

a poderosa luz da tua absurda

generosidade?

Do «animal que se sente no mundo como a água

na água?» — Não se sabe.

Escreve-se por nada, Arnaldo, para ninguém,

para nada.

Por isso, implacável, a ti mesma

eu me ofereço — um osso duro de roer

mas que ácido floresce

no aroma que mistura o oiro à merda e o mar

ao sal.

 

 

In “Poesia de Sempre”

Revista da Fundação Biblioteca Nacional

Nº 26 – Ano 14 – 2009

 

Eduarda Chiote

N. 1930

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Domingo, 13 de Janeiro de 2013

Recordando... Jorge Reis-Sá

PAI, A MINHA SOMBRA ÉS TU

 

a cadeira está vazia, um corpo ausente

não aquece a madeira que lhe dá forma

 

e não ouço o recado que me quiseste dar

nem a tua voz forte que grita meninos

na hora de acordar

ouço o teu abraço, no corredor em gaia

e os olhos molhados pela inusitada despedida

 

o sol foge

mas o crepúsculo desenha a sombra que

tenho colada aos pés

ou o espelho, coberto com a tua face

 

pai, digo-te

a minha sombra és tu

 

 

In “A Palavra no Cimo das Águas”

Colecção Campo da Poesia

Campo das Letras – Lisboa – 2000

 

Jorge Reis-Sá

N. 1977

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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2013

Recordando... António Rebordão Navarro

SABÍAMOS DO MAR SEM O SABERMOS

 

Sabíamos do mar sem o sabermos,

do mar dos mapas, da cor azul do mar,

dos naufrágios no mar,

do sol solto no mar.

 

Sabíamos do mar sem o sentirmos

nos poros dilatados pelo mar,

o verdejante mar escalando as montanhas

tão bruscas como o sal.

 

Sabíamos do mar em sinuosos sinos

assinalando a noite

com corações arrepiados,

abertos como mãos

sulcadas de cabelos e molhadas

de rugas e escamas.

 

Sabíamos do mar em signos, símbolos,

tropos e metáforas.

Sabíamos do mar?

Sabíamos o mar.

Sabíamos a mar

 

In “O Inverno - Poemas (1952 - 1982)”

Imprensa Nacional Casa da Moeda

 

Antónioo Rebordão Navarro

N. 1933

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Terça-feira, 1 de Janeiro de 2013

Recordando... Fernando Caldeira

A VIDA

 

Abri meus olhos ao raiar da aurora

e parti. Veio o sol e, então, segui-a,

a sombra, que eu julgava guiadora,

a minha própria sombra fugidia.

 

E foi subindo o sol; ao meio-dia

escondeu-se-me aos pés a sombra;

agora se volvo o olhar onde passei outrora,

vejo-a a seguir-me, a sombra que eu seguia.

 

A gente é o sol de um dia; sobe, avança,

passa o zênite, e vai na imensidade

apagar-se no mar, onde se lança...

 

E a vida é a própria sombra; meia-idade,

somos nós que a seguimos, e é a Esperança;

depois segue-nos ela: é a Saudade.

 

 

In “A Circulatura do Quadrado”

Edição Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, C.R.L.

 

Fernando Caldeira

1842 – 1894

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