REGRESSASTE À PRIMEIRA PEDRA
Regressaste à primeira pedra
roçada nas paredes, nos portões
na memória,
usada no bolso
apertada contra ti
quando o tempo escasseou
e os outros te consideraram mais forte
cravada na besta,
contra os inimigos,
atrás da presa,
sibilante nos ares,
material de troca,
inscrição perpétua,
ícone de protecção,
dentro de ti
como uma casa
fria, muda e fechada
In “Vago Pressentimento, Azul Por Cima”
Ilhas – 2000
Ana Paula Inácio
N. 1966
ALMA DE MAR
Eu quero esta minh`alma como o mar:
Líquida, transparente e abissal!
Não a quero salgada, porque o sal
É muito mais pesado do que o ar...
Quero a alma que anseio vislumbrar!
Leve, duma leveza tão total
Que voe pelo Céu universal
Como se fosse um raio de luar...
Quero ver a minh`alma feita em espuma
Como as ondas do mar a dar na areia!
Eu, náufraga-perfeita do que sou,
Quero a minh`alma esparsa como bruma!
Abstracta, inalcançável como ideia
Que no mar se perdeu e se encontrou!
Sonetos do Mar
In “Poeta Porque Deus Quer”
Autores Editora
Maria João Brito de Sousa
N. 1952
MINUCIOSA FORMIGA
Minuciosa formiga
Não tem que se lhe diga:
Leva a sua palhinha
Asinha, asinha.
Assim devera ser eu
E não esta cigarra
Que se põe a cantar
E me deita a perder.
Assim devera eu ser:
De patinhas no chão,
Formiguinha ao trabalho
E ao tostão.
Assim devera eu ser
Se não fora não querer.
In “Feira Cabisbaixa”
Editora Ulisseia
Alexandre O'Neill
1924 – 1986
SENHORA, PARTEM TAM TRISTES
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhus por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes
tam fora d´esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhus por ninguém.
In “Cancioneiro Geral”, III
João Roiz de Castell - Branco
Séc. XV – XVI **
** Ignoram-se as datas precisas
de nascimento e morte
DEVANEIO
Botão prestes a florescer…
Rosa de pêssego,
Vida a nascer.
Árvore prenhe de Primavera.
Sonhar nos seus ramos
Ornados de hera,
De alegria resplendecer;
Escutar gorjeios,
Assobios e gritos,
Concerto do alvorecer…
Teu corpo a florir,
A onda a subir…
Maré-cheia de anémonas,
Estrela do mar, poesia;
Recifes de corais,
Plâncton, maresia,
Gaivotas gritando nos pinhais…
In “O Livro da Nena” – Fevereiro de 2008
Papiro Editora
Maria Irene Costa
N. 1951
A NOITE RIMADA
Pela serra ao luar
ia um menino sozinho
sem sono para se deitar.
Ia o menino a pensar
por que seria ele só
sem sono p'ra se deitar.
Ia o menino a pensar
que há tanto por pensar
e a cidade a descansar.
E o menino a pensar
por que seria ele só
sem sono p'ra se deitar.
Quem dorme sem ter pensado
deve ter sono emprestado
não é sono bem ganhado.
Ia o menino a pensar
como poder arranjar
muita força p'ra pensar.
Ia o menino a arranjar
muita força p’ra pensar
o próprio sonho ganhar.
In “Poesia - Obras Completas”
José de Almada Negreiros
1893 – 1970
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