POEMA DE AMOR
Enquanto os meus passos procuram
nos teus a ressonância da alegria
e ambos reconhecemos a luz fascinada
do olhar, dá-me a tua mão.
O nosso caminho não é a tristeza,
nem a raiva, nem o medo.
O rio conhece-nos a voz
porque transportamos no coração
pássaros em chamas e vagueamos lado
a lado, sem tempo, sem idade.
Um desvio de malícia denuncia
a suspeita cumplicidade da brisa
que nos brinca no rosto.
Uma densa névoa lambe,
tumultuada, a pele da noite,
Ao amanhecer, quase inesperadamente,
far-se-à verão em nossas bocas.
O teu nome e o meu nome serão frutos
de esperma e saliva presos à língua.
Os teus olhos : inquietos,
deslumbrados, transparentes.
In “Conjugar Afectos”
Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas – 1997
Graça Pires
N. 1946
DILEMA
Principio a escrever este poema,
Porque a escrever as horas são mais breves…
Escrevo, nesta hora, por dilema
De penas que não são para mim levas!...
Sinto que algo me prende e que me algema,
Longos são os momentos, por mais breves…
É esta a razão forte e suprema,
Porque tu, pobre poeta, agora escreves!...
Mas valerá a pena eu escrever,
Estragar tantas folhas de papel,
Se tudo, será pois, para esquecer?!...
Coragem, meu poeta, aceita a Vida,
Quer ela seja doce ou seja fel,
Vale a pena, medita, de Alma erguida!
In ”Esta Cidade Que Eu Amo”
Edição do Grupo de Acção Recreativa
e Cultural Semente Nova (GARC)
Agosto de 1985 – Porto
Castro Reis
1918 – 2007
HINO AO PORTO
Cidade em que as burguesas vão à missa
Vestidas de vermelho carmesim.
Em vão, a luz, sobre elas, se espreguiça...
(As mães, pelo caminho, ao vir da missa
Proíbem-lhes os bancos do jardim...)
Não há fidalgos hoje. Há comerciantes.
É deles todo o ar que se respira!
Noites sem flor, sem luz, sem estudantes
E sem guitarras e sem mentira!
Para sentir o mar, o rio eterno
Cava, connosco, a rocha que dormia
E deita-se connosco, na alegria
De imaginar o céu, calcando o inferno.
Na rua escura as lojas de oiro e pano
São pedras frias, frígidas mas quietas.
Ó frios mercadores de oiro e pano
Porto! Mercado frio e desumano...
E no entanto ali é que há Poetas!
Lutar! – é o verbo. – Não morrer – é a vida.
Mas em surgindo a morte, que na estrada
Os ombros verguem sob a urna pesada
E seja lenta a hora da partida!
Noites sem luz, sem mel, sem fantasia!
Noites sem estudantes e sem flor!
Porto! – cidade pulmonar e fria
Que tens a força de negar ao dia
A medicina do amor!
In “Bodas Vermelhas”
Porto Editora – 1979 – 3.ª edição
Pedro Homem de Mello
1904 – 1984
ILHA DOURADA
A fortaleza mergulha no mar
os cansados flancos
e sonha com impossíveis
naves moiras
Tudo mais são ruas prisioneiras
e casas velhas a mirar o tédio
As gentes calam na
voz
uma vontade antiga de lágrimas
e um riquexó de sono
desce a Travessa da "Amizade"
Em pleno dia claro
vejo-te adormecer na distância,
Ilha de Moçambique,
e faço-te estes versos
de sal e esquecimento
In "A Ilha de Próspero"
Rui Knopfli
1932 – 1997
SONETO DE AMOR
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
In “Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa”
de Eugénio de Andrade
Campo das Letras
José Régio
1901 – 1969
NOSTALGIA
A pequena flor
só que além nasceu
sonhou ser maior:
nada lhe valeu…
Na cova esquecida,
sol que desejou
não a bafejou,
bastarda da vida…
E era flor ou gente?
Esquecida imperfeita
numa dor silente
ali jaz desfeita!
In "Tropos” – 1969
António Forte Salvado
N. 1936
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