MOIMENTO
Puseram a bandeira a meia-haste
E decretaram luto na cidade,
Responsos, coroas, círios – quanto baste
Para iludir a eternidade.
Teve o nome nas ruas, em moimentos:
«Nasceu – morreu – tantos de tal – Poeta»
Houve discursos graves, longos, lentos.
– Venham todos os ventos
Do planeta!
Rasguem bandeiras, sequem flores; no céu
Se percam orações, paters e glórias
– Tudo isso é dor que não lhe pertenceu –
Destruam as estátuas e as memórias;
Que os discursos inúteis vão dispersos
– A homenagem a um Poeta que morreu
É decorar-lhe os versos!
28 Setembro 49
In “As Folhas de Poesia Távola Redonda"
Fundação Calouste Gulbenkian
Boletim Cultural – Série VI – n.º 11 – Outubro de 1988
António Manuel Couto Viana
1923 – 2010
O VENTO LESTE
O vento leste soprou desabrido
sob o nítido Sol em céu imaculado.
Sobre pedras duras, entre casas altas
mosqueadas pelas injúrias de acrescentados anos,
o Caminhante faz por esquecer as próprias dores
com a esperança de um feliz encontro e,
estranhamente,
quanto mais intensa a dor
mais eficazmente lha mitiga
a esperança.
In “Quaresma Abreviada”
Black Sun Editores
José Blanc de Portugal
1914 – 2000
RIO DOURO
Apesar de ser de Espanha
Sua beleza é tamanha
E já tem fama mundial.
Este rio tão dourado
Lembra o vinho afamado
Que enaltece Portugal.
Serpenteando entre serras
Vai fertilizando as terras,
Antes de ao Porto chegar.
Rio dos barcos rabelos
Gostava de voltar a vê-los
No Rio Douro a navegar.
Nas margens em que se espraia
Tem no Porto e em Gaia
Enamorados corações.
Muito embora separados
Vivem a ele abraçados
São duas grandes paixões.
Ao aproximar-se da Foz
Ele passa mais veloz
Em correria suicida.
Mas antes de entrar no mar
Há quem o veja acenar
Em jeito de despedida.
In “Jóia de Granito”
Edição do Autor
A. Fernando Alves
N. 1934
TRISTEZA
Nos dias de tristeza, quando alguém
Nos pergunta, baixinho, o que é que temos,
Às vezes, nem sequer nós respondemos:
Faz-nos mal a pergunta, em vez de bem.
Nos dias dolorosos e supremos,
Sabe-se lá donde a tristeza vem?!...
Calamo-nos. Pedimos que ninguém
Pergunte pelo mal de que sofremos...
Mas, quem é livre de contradições?!
Quem pode ler em nossos corações?!...
Ó mistério, que em toda parte existes...
Pois, haverá desgosto mais profundo
Do que este de não se ter alguém no mundo
Que nos pergunte por que estamos tristes?!
In “Namorados”
Portugália Editora – 1924
Virgínia Victorino
1895 – 1968
ACODE A NOITE…
Acode a noite, o dia se apagando.
A cidade impõe-se a outra face.
0 mistério, agora, é lírico e é brando.
Se a mão lhe toca, abre-se.
É noite funda. Dos bas-fonds diversos
o som que vinha, lúbrico, morreu…
– É Deus que assiste a dor de fazer versos.
Foi a minh’alma que se mereceu.
In “As Folhas de Poesia Távola Redonda"
Fundação Calouste Gulbenkian
Boletim Cultural – Série VI – n.º 11 – Outubro de 1988
António Luís Moita
N. 1925
O ECO DE MIL SINOS DE PRATA
O eco de mil sinos de prata
emudece
ante o labor da aranha
O tempo emudece
na cegueira do ar
na sua geografia nula
Que queres de mim
matéria insensível?
Nas coisas conhecidas
o verbo ser
emudece
In “O Pavão Negro”
Editores Assírio & Alvim
Ana Hatherly
N. 1929
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