URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar a alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
In "Antologia Breve" – Editora Limiar – 1985
Eugénio Andrade
1923 – 2005
À FRAGILIDADE DA VIDA HUMANA
Esse baxel, nas praias derrotado,
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol, nos ceos, escurecido,
Foi do monte libré, gala do prado.
Esse nácar em cinzas desatado,
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse estio em Vesúvios encendido,
Foi Zéfiro suave, em doce agrado.
Se a nao, o Sol, a rosa, a Primavera,
Estrago, eclipse, cinza ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,
Olha, cego mortal, e considera
Que é rosa, Primavera, Sol, baxel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.
IN "Fénix Renascida III"
Francisco de Vasconcelos
1665 – 1723
ALÉM DA MORTE
Fecho os olhos num sonho que me leva
Às paragens divinas da saudade,
Lá onde a noite é apenas claridade
Dando origem talvez a nova treva.
Fecho os olhos e avisto a Eternidade,
Lá onde um sol fantástico se eleva
Num perpétuo fulgor, sem que descreva
Sua órbita de luz na imensidade.
Fecho os olhos e vejo a minha imagem
Anoitecendo os longes da paisagem,
Como a única sombra que persiste...
Sou eu! sou eu aquele vulto errando!
Sou eu, além da morte ainda sonhando
Na tua graça e neste amor tão triste!...
In "Mors – Amor"
Atlântida Livraria Editora – 1928
Anrique Paço D’Arcos
Henrique Belford Correia da Silva – Conde de Paço D’Arcos
1906 – 1993
CABO
Espanha foi já perdida
por Letabla uma vez,
e a Tróia destruída
por males que Helena fez.
Desabafa, coraçam,
vive, nam te desesperes,
ca´a que fez pecar Adam
foi a mãe destas mulheres.
In “Cancioneiro Geral”, II
Jorge de Aguiar
Séc. XV - XVI
SUPREMO ENLEIO
Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!
Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!
Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!
E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda...
1930
In “Charneca em Flor”
Sonetos - Estante Editora
Florbela Espanca
1894 – 1930
COME E NÃO TE CALES
Ai de quem não come
nem embala
o pão
de qualquer ilusão.
E, cheio de fome
no estômago e no coração,
não come
e cala.
Eu não.
Neste mundo impuro
anseio sempre pelo pomo
da árvore do futuro
para meu regalo.
E, quando não como,
não me calo.
Grito e gritarei sempre!
Juro.
In "Come e Cala" Nº 8 – Ano I – 1981
José Gomes Ferreira
AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
é solitário andar por entre a gente,
é nunca contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
In “SE TUDO FOSSE IGUAL A TI”
Poesia de Luís de Camões – 2007
Edição Alma Azul
Luís de Camões
1524 (?) – 1580
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