AS TUAS MÃOS
Se tu soubesses
que tudo o que de mais alto
poderás ambicionar,
está ao alcance das tuas mãos.
Se tu soubesses
que a razão máxima
da existência das tuas mãos,
é encontrar outras mãos.
Se tu soubesses
quanta divindade
ganham as tuas mãos,
quando acariciam.
Se tu soubesses
compreender estas verdades
nunca vazias
tuas mãos fecharias.
In "Fala a Meus Amigos" – Edição da Autora – 1977 – Lisboa
Ana Bela Pita da Silva
N. 1939
ERA ASSIM
Era assim:
queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?
queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?
quanto me
queres?
quanto me
desejas?
ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...
In "Um calculador de improbabilidades" – Quimera – 2001
Ana Hatherly
N. 1929
REFLEXOS
Olho-te pelo reflexo
Do vidro
E o coração da noite
E o meu desejo de ti
São lágrimas por dentro,
Tão doídas e fundas
Que se não fosse:
o tempo de viver;
e a gente em social desencontrado;
e se tivesse a força;
e a janela ao meu lado
fosse alta e oportuna,
invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.
In "Anos 90 e Agora" – Quasi Edições
Ana Luísa Amaral
N. 1956
NÃO SEI
Não sei de mim
se daquilo que parece ser
me perdi.
Deixei que a vida me vivesse e,
perdendo-me da vida,
a vida perdeu-se.
E menti muito,
para ser melhor
poeta.
In "Partitura" – Edições Colibri – 1992 – Lisboa – Portugal
Fátima Andersen
N. 1940
TEU CORPO DE AGOSTO
Teu corpo é Agosto
Tu cheiras a verão
por baixo das veias
Tu cheiras a quente
Tu cheiras à febre
do sangue maduro
Teu ventre de orgia
teu cheiro a sodoma
aroma-mulher
Teu corpo de Agosto
tem cheiro a Setembro.
In "Amor no feminino"
Editora Fora do Texto – 1997 – Coimbra – Portugal
Manuela Amaral
1934 – 1995
RETRATO TALVEZ SAUDOSO DA MENINA INSULAR
Tinha o tamanho da praia
o corpo era de areia.
Ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.
E quando as mãos se estenderam
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.
Largou o sonho nos barcos
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.
E quando o seu corpo se ergueu
voltado para o desengano
só ficou tranquilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar que a retém.
Natália Correia
1923 – 1993
PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros e compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
In "Mar Novo"
Sophia de Mello Breyner Andresen
1919 – 2004
AMOR SILÊNCIO
Amor silêncio amargo a roçar-me a morte
grito partido do vidro sobre o peito
ilha deserta no meio das capitais do norte
grilhetas ajustadas no rio em que me deito.
Distância cumulada remanso duma espera
ponte de aventura do dois à unidade
amor brilho raiando a chave do desejo
minuto adormecido ao pé da eternidade.
Amor tempo suspenso, ó lânguido receio,
no pranto do meu canto és a presença forte
estame estremecido dissimulado anseio
amor milagre gesto incandescente porte.
Amor olhos perdidos a riscar desenhos
em largo movimento o espaço circular
amor segundo breve, lanceta, tempo eterno
no rápido castigo da lua a gotejar.
In "366 poemas que falam de amor" – Quetzal Editores
Salette Tavares
1922 – 1994
DEI-TE UM BEIJO
Dei-te um beijo e mitiguei
minha sede de mais beijos,
dei-te um só e lamentei
não me sarar os desejos...
Um só não é solução
pró lume que me arde no peito...
Mas faz bem ao coração
dar amor a um eleito!
Por isso eu hei-de beijar
vezes e vezes sem fim
tua boca apetecida,
e tu também me hás-de dar
a retribuição, enfim,
a tua pla minha vida!
In Com-sensual-idade " – Hugin Editores – 2001 – Lisboa – Portugal
Teresa Machado
N. 1954
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