PROTESTO
Dizias: «É assim mesmo, a alma não existe;
a vida é esta só, a outra é puro engano;
Inferno e Céu e Deus jamais nos causam dano,
freio que mal contém a humanidade triste...»
Eu, crente, protestei, mas logo tu sorriste,
da tua má doutrina ainda fôste ufano...
Enganas a tia mesmo, és cego, pobre insano,
tão fácil te é negar aquilo que não viste!?
Verás acaso a dor dum sonho que é desfeito?
Já viste o coração que pulsa no teu peito?
Quem nega a inteligência e onde a vemos nós,
é coisa que se apalpe e agarre? Não por certo.
Nunca mais negues Deus: repara mais de perto
na própria natureza, escuta a sua voz...
IN "Sinfonia da Terra"
Liv. Edit. Educação Nacional – Porto – 1943
Isaura Matias de Andrade
AI FLORES, AI FLORES DO VERDE PINO…
Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mh´á jurado!
Ai Deus, e u é?
- Vós me preguntades polo voss´amado,
e eu ben vos digo que é san´e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss´amado,
e eu ben vos digo que é viv´e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san´e vivo
e seerá vosc´ant´o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv´e sano
e seerá vosc´ant´o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
D. Dinis
1261 – 1325
FIM DE OUTONO
Fim de Outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia...
Tudo seco pelas hortas,
Grandes lágrimas no chão
Nem uma flor pelos montes,
Tudo numa quietação
Soluça numa oração
O triste cantar das fontes.
Fim de Outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia...
A terra fechou as portas
Aos beijos do sol ardente,
E agora está na agonia...
Valha à terra agonizante
A Santa Virgem Maria!
Fim de Outono... Folhas mortas...
Sol doente... Nostalgia
Fernanda de Castro
1900 – 1994
ALFA E OMEGA
Dois polos tem o mundo; e o homem é um mundo.
Os pólos onde gira o seu viver profundo
são a infância e a velhice, os vértices extremos,
unidos ao Infinito a um eixo que não vemos.
Na infância e na velhice o homem está mais perto
do ponto onde se apoia o seu rodar incerto.
Perto da origem, uma; outra perto do têrmo.
E seja a vida: luz, trevas, jardim, êrmo,
sempre o fulcro infinito a cuja roda os seus
polos giram constante e eternamente – é Deus.
In "do HOMEM e da TERRA" – Poemas
1932 – Edições "Brotéria" – Lisboa
Serafim Leite
1880 – 1969
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