O CORPO É TODAS AS COISAS
O corpo é todas as coisas
menos a luz que resplandece do teu olhar
menos o azul
que não está nas coisas nem no céu primaveril que se abre em rosa
nem nas águas cintilantes do oceano
nem nos teus olhos iluminados
pela pueril fragrância das glicínias
todas as coisas
são o universo inteiro que vai além
das coisas que vemos
suspensas nos pilares do tempo
ou as que não vemos por estarem ocultas na ficção dos espelhos
sempre o corpo
será a perpetuação de todas as coisas
na brevidade dos instantes
menos o nada que nada é fora de si próprio
menos o absoluto
espaço desabitado para lá do portal dos deuses
menos o amor
sempre em viagem na errância do desejo
sempre o corpo será
todas as coisas ígneas a incendiar
a noite e o firmamento incerto
sempre as mãos semearão a pedra entre vagas luas
e os lábios sulcarão os regos do corpo entreaberto
com arados de sangue de saliva e de sémen
sempre o corpo aspirará a ser liberto das cisternas
do medo onde mergulha as raízes
todas as coisas nunca serão no corpo
todas as coisas na sua infinita falta de si mesmo.
In “Cem Poemas Portugueses no Feminino”
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Maria do Céu Brito
N. 1966
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