SE TU VIESSES AGORA
Se tu viesses agora,
Se entrasses àquela porta
e te viesses sentar
mesmo defronte de mim
nesta cadeira vazia
ocupada de silêncio,
E me dissesses bom dia
boa tarde
ou boa noite
(qualquer coisa aconchegada
a anunciar o regresso),
e me sorrisses depois
num compromisso ternura,
Se o gesto da tua mão
recaísse no meu ombro
a atenuar a distância
entre mim e a tua ausência,
Se me desses a entender
que o erro das nossas vidas
não foi acto consumado
e que nada chega ao fim
sem que seja ultrapassado
pelo querer da decisão,
Se tudo isto acontecesse,
Se por milagre
ou loucura
eu agarrasse a lonjura
e te fizesse mais perto,
com certeza que morria
ou renascia contigo
nesse preciso momento.
In "Tempo de Passagem"
Editora Fora do Texto – Coimbra – 1991
Manuela Amaral
1934 – 1995
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