MORENA
Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.
Pois eu não gostava,
Parece-me a mim.
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.
Eu não… mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou não.
Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!
Tu és a mais rara
De todas as rosas!
E as coisas mais raras
São mais preciosas.
Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas, rosas morenas,
Só tu, linda flor.
E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei… mas seria
Morena também.
Moreno era Cristo
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
Guerra Junqueiro
1850 – 1923
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