TEMPO
Não sei se te nomeie ou nomeie o vento,
isto que passa
e procura os outros lugares onde o pólen cai.
Talvez uma colmeia confie ao seu mel o que
ficou de um ano
em que a tempestade não se fez ouvir sobre
as corolas.
O que viste antes de setembro perdeu-se,
apagou-se,
afastou-se sem dizer nada,
como os barcos que pouco a pouco se
afastaram da nossa vida,
calados e brancos,
com as suas gaivotas de asas fechadas,
envelhecendo lado a lado, sobre o convés.
In “Agora e na Hora da Nossa Morte”
Assírio & Alvim
José Agostinho Baptista
N. 1948
NESSE TEMPO PARA MIM
Nesse tempo para mim
amar era trazer uma fogueira
onde colava um rosto de mulher
ou a forma de um jasmim.
De vez em quando vestia-lhe um fantasma novo
ou outro sonho qualquer,
ás vezes bastava mudar-lhe o nome
pronunciado com a saliva das manhãs rumorosas
de quem tem sede
não de uma fonte especial,
mas apenas do orvalho
que o Sol ao nascer
modela no perfume-seda
das rosas.
In “Poeta Militante”
Publicações D. Quixote
José Gomes Ferreira
1900 – 1985
ESTE É O TEMPO
Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.
Sophia de Mello Breyner
1919 – 2004
In Mar Novo (1958)
O TEMPO
Homens, ouvi-me! Eu chamo-me o Presente.
Sou como a grão de trigo; se no mundo
me semeais no Bem, nasço e fecundo
a Eternidade de que sou semente.
Mas se me esperdiçais incautamente
em frívolas acções, sou infecundo;
caio no vácuo, vou parar ao fundo
da vida estéril que perturba a mente.
Maldito o homem que me arroja adrede
nos desertos do Mal! Ó loucos crede
que a Justiça não tarda, e que anoitece...
Some-se o Tempo. O que o homem faz não passa:
nas mãos de Deus, por bem ou por desgraça,
eternamente imóvel permanece.
(In Livro "do HOMEM e da TERRA")
1932 - Edições "Brotéria" - Lisboa
Serafim Leite
1880 - 1969
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