«... Embora cego, quase de nascença, não deixou, contudo, de ser um talentoso poeta e de nos legar uma obra vasta e variada ... »
VEM Ó DOURO REPOR NO BERÇO AUGUSTO
Vem ó Douro repor no berço augusto
Aquella, cuja graça não se pinta;
E traze-a tão de manso, que não sinta
Um ligeiro temor, um leve susto.
O respeito lhe dá, devido e justo,
Que seu mérito exímio não desminta;
Pois entre as nymphas tuas é distincta,
Qual entre ervinhas levantado arbusto.
Mas tu pela razão de ser mais bella,
Eternisando a dôr que me devora,
Cruel talvez recuzarás trazel-a.
Ah! Vê que a falta sua um triste chora!
Tu já foste feliz á vista d'ella;
Deixa-me ser tambem feliz agora.
Soneto L – Página 52
Antonio Joaquim de Mesquita e Mello
1792 – 1884
In Collecção de Poesias Reimpressas e Inéditas
Tomo II – e ultimo. 1861
Typ. de Manoel José Pereira
ESTE É O TEMPO
Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.
Sophia de Mello Breyner
1919 – 2004
In Mar Novo (1958)
MAL, QUE NAS FAXAS INFANTIS FUI VISTO
Mal, que nas faxas infantis fui visto,
Victima fui de febre torbulenta:
A existência salvei n'essa tormenta,
Para jamais saber aonde existo!
Servem-me as Plantas, d'animais me visto,
D'elles me nutro, a Terra me sustenta;
A agoa me refrigera, o Sol me aquenta,
Sem leve idèa eu ter de tudo isto!
Meu desastre me oprime em taes correntes,
Que só conheço bem trévas, e penas,
Horríveis Sócias minhas, permanentes!
D'este vasto Universo ignoro as Scenas,
Côres, Mar, Terra, Ceo, Plantas, Viventes,
Cousas são de que os nomes sei apenas.
Nota do autor – Foi por effeito d'uma febre maligna,
que eu perdi na infancia a visão.
Antonio Joaquim de Mesquita e Mello
1792 – 1884
In Collecção de Poesias Reimpressas e inéditas
Tomo II – e ultimo. 1861
Porto - Typ. Sebastião José Pereira
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