NO DIA DE AMANHÃ
No dia de amanhã eu estarei acordada à minha espera.
NÃO QUERO QUE MAIS NINGUÉM ME ACORDE
SENÃO EU
Vou receber-me condignamente com todas as honras de um hóspede ilustre
Tomo um banho ou tomo um duche (não sei bem)
e ponho aquele vestido cor de luto eroticamente triste
À mesa ficarei sentada à minha direita (em sinal de respeito e educação) Vou falar sozinha de coisas que não existem Vou ter um sorriso social Hei-de falar do tempo do teatro do ballet da moda de Paris ou do último modelo do Toyota Vou ser cretina e idiota mas vou receber condignamente o meu hóspede ilustre - EU
No dia de amanhã eu estarei acordada à minha espera
e
NÃO QUERO QUE MAIS NINGUÉM ME ACORDE
SENÃO EU
In "Amor Geométrico"
Edição da Autora – 1979
Manuela Amaral
(1934-1995)
ODE À TRISTEZA
Eu canto esta alegria
(entristecida)
de tanto te lembrar
e ser saudade
E a minha voz é forte
timbrada de dias
e distâncias
com as palavras todas mastigadas
(E se tristeza tenho
que me reste
não me julgues parada
ou indecisa
Cristalizei meus olhos de chorarem
e o meu olhar é firme,
certeiro ao teu encontro)
Eu canto esta alegria
de segredar-me ao vento
e seguir viagem
em direcção de ti
leve
impensada
informe
e num fluir de aragem
ser transformada em ar
Pedaço que respiras.
E nos meus dedos mansos
-veludos que pisaram
teu corpo em movimento-
vou amarrar o tempo
as letras do teu nome
E depois morrer.
Eu canto esta alegria
de saber-te
In “Esta Coisa Quase Vida” - 1993
Editora Fora do Texto
Manuela Amaral
(1934-1995)
POSSE INTEMPORAL
Fazer amor contigo
não é espelhar teu corpo nu
no vítreo do meu espaço
não é sentir-me possuída
ou possuir-te
É ir buscar-te
ao abismo de milénios de existência
e trazer-te livre.
In “Amor no feminino”
Editora Fora do Texto
Manuela Amaral
(1934-1995)
NO DIA DE AMANHÃ
No dia de amanhã eu estarei acordada à minha espera.
NÃO QUERO QUE MAIS NINGUÉM ME ACORDE
SENÃO EU
Vou receber-me condignamente com todas as honras de um hóspede ilustre
Tomo um banho ou tomo um duche (não sei bem)
e ponho aquele vestido cor de luto eroticamente triste
À mesa ficarei sentada à minha direita (em sinal de respeito e educação) Vou falar sozinha de coisas que não existem Vou ter um sorriso social Hei-de falar do tempo do teatro do ballet da moda de Paris ou do último modelo do Toyota Vou ser cretina e idiota mas vou receber condignamente o meu hóspede ilustre - EU
No dia de amanhã eu estarei acordada à minha espera
e
NÃO QUERO QUE MAIS NINGUÉM ME ACORDE
SENÃO EU
In "Amor Geométrico"
Edição da Autora – 1979
Manuela Amaral
(1934-1995)
TENHO A SAÚDE DOENTE
Tenho a saúde doente.
Tenho a barriga nos ombros
e a cabeça no ventre.
Tenho os pulmões nos ouvidos
e o coração está na boca.
Penso com os pés
com as mãos
e no meio da confusão
ando de pernas para o ar.
Tenho a saúde doente
por ser poeta
e ser louca.
In "Tempo de Passagem”
Editora Fora do Texto
Manuela Amaral
(1934-1995)
CANÇONETA
Não me importa
O que se saiba...
- Só me importa
O que te digo:
Já andei de braço dado,
Em braços desconhecidos,
Só para ter a ilusão
Que caminhava a teu lado
De braço dado contigo...
in "Hino Proibido"
Edição da Autora
Manuela Amaral
(1934-1995)
SE TU VIESSES AGORA
Se tu viesses agora,
Se entrasses àquela porta
e te viesses sentar
mesmo defronte de mim
nesta cadeira vazia
ocupada de silêncio,
E me dissesses bom dia
boa tarde
ou boa noite
(qualquer coisa aconchegada
a anunciar o regresso),
e me sorrisses depois
num compromisso ternura,
Se o gesto da tua mão
recaísse no meu ombro
a atenuar a distância
entre mim e a tua ausência,
Se me desses a entender
que o erro das nossas vidas
não foi acto consumado
e que nada chega ao fim
sem que seja ultrapassado
pelo querer da decisão,
Se tudo isto acontecesse,
Se por milagre
ou loucura
eu agarrasse a lonjura
e te fizesse mais perto,
com certeza que morria
ou renascia contigo
nesse preciso momento.
In "Tempo de Passagem"
Editora Fora do Texto – Coimbra – 1991
Manuela Amaral
1934 – 1995
MULHER
(EM DEFINIÇÃO)
Mulher-Poesia
que deixa no meu corpo bocados de poema
Mulher-Criança
que desce à minha infância
e me traz adulta
Mulher-Inteira
repartida no meu ser
Mulher-Absoluta
Fonte da minha origem
In “Amor no Feminino”
Editora Fora do Texto – 1997
Manuela Amaral
1934 – 1995
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