CHUVA
Chove como sempre. E,
sempre que chove,
as pessoas abrigam-se
(as que não estavam à
espera que chovesse);
ou abrem, simplesmente,
o chapéu-de-chuva - de
preferência com fecho
automático. Porque, quando
chove, todos temos de
fazer alguma coisa: até
nós, que estamos dentro
de casa. Vão, uns, até
à janela, comentando:
“Que Inverno!”; sentam-se,
outros, com um papel
à frente: e escrevem
um poema, como este.
In “Um Canto na Espessura do Tempo” 1992
Quetzal Editores
Nuno Júdice
(N.1949)
PINGAS DE CHUVA
Caem,
Gordas, sonoras,
Monótonas pingas de chuva,
- Espaçadas -
E indolentes
Vão marcando uma toada:
Ping pang - ping pang,
As pingas
De chuva do Outono pardo.
Espapaçada
A terra mole absorve
As vagas de chuva densa
Que lenta vai caindo,
Em pingas grossas, sonoras.
E ao cair,
A chuva bate o compasso
Com o som dum contrabasso...
Ping...
Pang...
Ping...
Pang…
In “Poemas do Tempo Incerto”
Adolfo Casais Monteiro
1908 – 1972
CHUVA DA TARDE
Chuva da tarde, – melodia mansa,
desejos vagos de chorar baixinho...
Voltei aos meus caprichos de criança,
- só quero, Amor, saber do teu carinho!
Chuva da tarde...
Na poeira ardente
cai um frescor inesperado e calmo.
É um frescor que purifica a gente
- como a leitura mística dum Salmo!
Floresçam jasmineiros e açucenas,
- acuda-se à tristeza das raízes!
Que tu, Amor, com tuas mãos pequenas,
as guardes da estiagem e as baptizes!
Meu coração doente remoçou-se,
quando o tocaram essas mãos piedosas...
Chuva da tarde, – enfermaria doce,
onde vão convalescer as rosas!
Chuva da tarde...
Ao longo das varandas
reza mistérios lentos a noitinha.
Que bem não é sonhar em coisas brandas,
nas tuas brandas asas de andorinha!
Deixa que a sombra te emoldure a face,
- eleva no silêncio a tua voz!
O Cântico dos Cânticos renasce,
- diria até que se escreveu p'ra nós!
António Sardinha
1887 – 1925
CHUVA DE MAIO
Chuva de Maio,
chuva de lenda,
caindo branda, tão de mansinho,
que mais parece feita de renda,
que mais parece feita de arminho.
Chuva de Maio
chuva de lenda...
Chuva de Maio,
que vai caindo
Suavemente – chuva divina –,
ao mesmo tempo que o sol, fulgindo
pelas alturas, tudo ilumina.
Chuva de Maio
que vai caindo...
Chuva de Maio,
que faz mais belas
todas as moças – que as faz formosas –,
chuva caindo só para elas,
como um perfume, feito de rosas,
Chuva de Maio,
que as faz mais belas.
Paulo Frazão
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Poetas natu...
. Recordando... António Sar...