ALIMENTO IMPERFEITO
Possa eu tornar-me pedra,
da pedra areia, da rocha
grão, do diamante brilho.
Endureça eu como concha
de água matricial, minério
de cobre, coração cristalino.
Seja eu alimento imperfeito
de clareza perfeita, mar denso,
condensado, astral e puro.
Seja eu mel coagulado
d’orvalho e ouro vivo.
In “Adornos”
Editorial Dom Quixote
Ana Marques Gastão
N. 1962
VENS DE NOITE NO SONHO
Vens de noite no sonho
sem pés
entre páginas
de gasta paciência
quando a música findou
e teu sorriso se desfez
como um grão de pólen.
Vens no veneno oculto
de meus dias
no silêncio
dos meus ossos
devagar
arrastando em queda
o nosso mundo.
Vens no espectro
da angústia
na escrita
inquieta
destes versos
no luto maternal
que me devolve a ti.
A escuridão desce então
sobre o meu corpo
quando o rosto da morte
adormece na almofada.
In “Nocturnos”
Editora Gótica
Ana Marques Gastão
N. 1962
SOBREVIVO
Sobrevivo
assim
casa vazia
em vasto mundo.
E tu mais dócil
em teu fiel
e paciente inferno
de enormes estrelas.
Sono de morte
sou voo raso
adágio breve
salmo e nostalgia.
Aqui nascemos
e voltamos
mortos
na memória
doce espiral,
de um tão
escasso fulgor.
In “Nocturnos”
Gótica Editora
Ana Marques Gastão
N. 1962
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