SOZINHA NO BOSQUE
Sozinha no bosque
com meus pensamentos,
calei as saudades,
fiz trégua a tormentos.
Olhei para a lua,
que as sombras rasgava,
nas trémulas águas
seus raios soltava.
Naquela torrente
que vai despedida
encontro, assustada,
a imagem da vida.
Do peito, em que as dores
já iam cessar,
revoa a tristeza,
e torno a penar.
In “Poetas do Século XVIII”
Selecção, prefácio e notas de M. Rodrigues Lapa
Seara Nova - 3.ª edição - 1967
Pág. 103 e 104.
Marquesa da Alorna
D. Leonor de Almeida de Portugal Lorena e Lencastre
(1750 – 1839)
POR AMOR
Só ficará de ti o que fizeste
por amor.
O resto não valeu:
foi apenas poeira que se ergueu
em teu redor
e o vento varreu.
Só ficará de ti o que escreveste
com paixão.
O resto não contou:
foi tão-só uma sombra que passou,
pura ilusão,
e nem rasto deixou.
In “Por Amor e Outros Poemas”
Papiro Editora - 2008
Torquato da Luz
(1943 – 2013)
O TEU RETRATO
Deus fez a noite com o teu olhar,
Deus fez as ondas com os teus cabelos;
Com a tua coragem fez castelos
Que pôs, como defesa, à beira-mar.
Com um sorriso teu, fez o luar
(Que é sorriso de noite, ao viandante)
E eu que andava pelo mundo, errante,
Já não ando perdido em alto-mar!
Do céu de Portugal fez a tua alma!
E ao ver-te sempre assim, tão pura e calma,
Da minha Noite, eu fiz a Claridade!
Ó meu anjo de luz e de esperança,
Será em ti afinal que descansa
O triste fim da minha mocidade!
In “Poesia Completa”
pref. de Mário Cláudio,
Publicações Dom Quixote
António Nobre
(1867 – 1900)
O TEMPO VIVE
O tempo vive, quando os homens, nele,
se esquecem de si mesmos,
ficando, embora, a contemplar o estreme
reduto de estar sendo.
O tempo vive a refrescar a sede
dos animais e do vento,
quando a estrutura estremece
a dura escuridão que, desde dentro,
irrompe. E fica com o uivo agreste
espantando o seu estrondo de silêncio.
In "Sobre os Mortos”
Edições Afrontamento
Fernando Echevarría
(N. 1929)
DO OUTRO LADO DO RIO
Do outro lado do rio
cada voz é um poema.
Faz o barqueiro um desvio
vai-e-vem rema-que-rema
Ao outro lado do rio.
Todo o sol, a névoa, a noite
me condensa esta saudade
Nada impede que me afoite
em resguardos sem verdade,
ao outro lado, pela noite
Surgem estrelas nas mágoas,
nas mágoas do meu desterro:
atravessar estas águas
e reparar o meu erro
(o meu erro e as suas mágoas).
Do outro lado do rio
que imenso reino para mim
Aqui tenho fome e frio
Aqui para onde vim
Do outro lado do rio.
Guardo o sol na minha mão,
Fechado que mais não tenho.
Os meus sonhos onde irão,
Sendo eu aqui um estranho,
Um sol fechado na mão?
Coordenadas Líricas
In “Lisboa Com Seus Poetas”
Publicações Dom Quixote
Fernanda Botelho
(1926 – 2007)
CANÇÃO DO NU
Lindo
Mármore precioso que na alcova
Surpreendi dormindo!
E lindo
À luz dum fósforo, acendido a medo,
Despertou sorrindo.
E, lindo,
Dos olhos as meninas me saltaram
Para o nu que se estava descobrindo.
Linda!
Ficou-se ao desgasalho adormecida,
Ai vida,
Como ainda não vi coisa tão linda.
Linda,
Braços abertos em desnudo amplexo,
Seu corpo era uma púbere mendiga,
E ele é que estava pedindo,
Lindo,
O meu sexo.
In “Contemporanea”
Director – José Pacheco
Ano I – Volume III – Nº.9 Ano 1923
Afonso Duarte
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