Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009

Recordando... Poetisas Portuguesas (2)... Manuela Amaral

NO CONJUGAR AMOR

 

Descobrimos coisas

que ninguém mais sabe

Coisas diversas do saber comum.

A transfusão que existe no beijar

quando a ternura é líquida

E a transparência

opaca

do suor

quando o amor é feito

E o jeito nos fica

de namorar o corpo

E o exagero em tudo que se diz

nas juras repetidas.

Descobrimos coisas

que ninguém mais sabe

e que aprendemos juntas.

 

 

In “Amor no Feminino”

Editora Fora do Texto – 1997

Coimbra – Portugal

 

Manuela Amaral 

1934 – 1995

 

 

 

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Sábado, 24 de Janeiro de 2009

Recordando... Poetisas Portuguesas (2)... Regina Guimarães

MUTILAÇÕES

 

Escreve agora a música

que os muros trauteiam

como eu dilapidei o meu tesouro.

 

Desenha agora a árvore

que rebentou por dentro.

Mostra agora o coração

com uma flecha no centro.

 

Vivi de brilho

e cuspi ouro pela boca.

Se ninguém me quis prender

foi porque não dei caça

não dei luta

nem falei em razão de força maior

nem sequer do futuro que me escuta.

 

Este livro custa a abrir

e aquela porta a fechar.

Desata agora a chorar

mesmo sem querer

mesmo sem sentir.

Chora por tudo

o que não está para vir.

 

 

In “Cem Poemas Portugueses no Feminino”

Selecção e Org. de José Fanha e José Jorge Letria

Editora Terramar

 

 

Regina Guimarães

N. 1957

 

 

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Terça-feira, 20 de Janeiro de 2009

Recordando... Poetisas Portuguesas (2)... Irmã Maria Rita Valente-Perfeito

DÁ O TEU PÃO

 

Sê tu o pão

Daqueles que o não têm.

 

Abre o teu coração

Como um celeiro

De grãos de trigo

A doirar,

Para matar a fome

De amor e de ternura

De quem se aproxima de ti.

 

Depois,

Não feches nunca mais

O teu celeiro

E dá-o todo inteiro

A quem precisar de ti.

Matarás, assim,

A fome mais pungente,

A mais dolorosa

E exigente

Que no mundo existe.

 

 

 

In “Poemas de uma Vida”

 

Irmã Maria Rita Valente-Perfeito

N. 1920

 

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Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2009

Recordando... Poetisas Portuguesas (2)... Teresa Rita Lopes

AGORA QUE MORRESTE MÃE

 

Agora que morreste Mãe

E só em mim te tenho

Sou mais que o meu tamanho

Porque sou tu também

 

Tuas mãos afagam as minhas mãos

De quem são estes gestos esta pele?

Nunca me deste irmãos

Só contigo reparto o meu farnel

 

De quotidianos fardos e alegrias

Breves e desta brasa em chaga

Que é a tua ausência nos meus dias

Órfãos mas sempre ao colo desta mágoa

 

De não te ter de te ter sido esquiva

De não te ter nunca aberto as portas

Do meu ser de nunca te ter dado vivas

O que hoje já só são carícias mortas 

 

 

In “Cicatriz” – 1996

Editorial Presença

 

Teresa Rita Lopes,

N. 1937

 

 

 

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Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2009

Recordando... Poetisas Portuguesas (2)... Maria Irene Costa

ALMA

 

Vive cada instante com intensidade.

Absorve cada sopro, cada aragem.

Alegre saboreia a mocidade,

Que a vida é quase uma miragem!

 

Abre as asas e livre voa,

Mesmo que seja um breve planar.

Procura a Estrela-guia e o luar

Que retirem do teu caminho o que magoa!

 

Sê tu, sempre tu, autêntica e pura.

Afasta os espinhos, a terra dura.

Amanheça de alegria o teu sorriso!

 

Possas ser, dos tristes, arrimo e encanto.

Esconde rosas vermelhas no teu manto

E faz do solo que pisas um Paraíso!...

 

 

In “O Livro da Nena” – Fevereiro de 2008

Papiro Editora

 

Maria Irene Costa

N. 1951

 

 

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Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2009

Recordando... Poetisas Portuguesas (2)... Fernanda de Castro

ASA NO ESPAÇO

 

Asa no espaço, vai pensamento! 

Na noite azul, minha alma, flutua! 

Quero voar nos braços do vento,

quero vogar nos braços da Lua!

 

Vai, minha alma, branco veleiro,

vai sem destino, a bússola tonta...

Por oceanos de nevoeiro

corre o impossível, de ponta a ponta.

 

Quebra a gaiola, pássaro louco!

Não mais fronteiras, foge de mim,

que a terra é curta, que o mar é pouco,

que tudo é perto, princípio e fim.

 

Castelos fluidos, jardins de espuma,

ilhas de gelo, névoas, cristais,

palácios de ondas, terras de bruma,

...Asa, mais alto, mais alto, mais!

 

 

In “Poesia II” – 1969

 

Fernanda de Castro

1900 – 1994

 

 

 

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Domingo, 4 de Janeiro de 2009

Recordando... Poetisas Portuguesas (2)... Luiza Neto Jorge

A CASA DO MUNDO

 

Aquilo que às vezes parece

um sinal no rosto

é a casa do mundo

é um armário poderoso

com tecidos sanguíneos guardados

e a sua tribo de portas sensíveis.

 

Cheira a teias eróticas. Arca delirante

arca sobre o cheiro a mar de amar.

 

Mar fresco. Muros romanos. Toda a música.

O corredor lembra uma corda suspensa entre

os Pirinéus, as janelas entre faces gregas.

Janelas que cheiram ao ar de fora

à núpcia do ar com a casa ardente.

 

Luzindo cheguei à porta.

Interrompo os objectos de família, atiro-lhes

a porta.

Acendo os interruptores, acendo a interrupção,

as novas paisagens têm cabeça, a luz

é uma pintura clara, mais claramente lembro:

uma porta, um armário, aquela casa.

 

Um espelho verde de face oval

é que parece uma lata de conservas dilatada

com um tubarão a revirar-se no estômago

no fígado, nos rins, nos tecidos sanguíneos.

 

É a casa do mundo:

desaparece em seguida.

 

 

In “Cem Poemas Portugueses no Feminino”

Selecção e org. de José Fanha e José Jorge Letria

Editora Terramar

 

Luiza Neto Jorge

1939 – 1989

 

 

 

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